Fermentelos

 

 

Nos tempos da Lusitânia na era de 950*, a aréa de Fermentelos e da Pateira seria um protectorado de Ramiro II, que doou por herança à Condessa Mumadona Dias que por sua vez, o entrega  ao seu filho Gonçalves Mendes para o defender da cobiça de Ordonho II, que apesar de por laços familiares ter direito, não teve qualquer ganho... 
Gonçalves Mendes em seguida defender o seu protectorado dos Romanos que pretendiam usufruir do canal que passava nestas terras, para executar uma represssa, ficando as águas com um nível favorável para servir os seus interesses, mas encontraram grande resistência, como última tentativa terim construido a ponte sobre o Rio Vouga para poder supreender Gonçalves Mendes que resistiu... Neste sentido, segundo alguns autores e vestígios, admite-se que perto desta aréa teria existido a cidade de Talábriga..., e mais em evidência a cidade da Gocha, em Espinhel junto à Pateira...e no Cabeço do Outeiro, em fermentelos...

A Pateira que toma forma, torna-se um centro da burguesia para pesca e caça, cobiçada, passa a pertencer ao protectorado de Bragança que estabeleceu planos para aproveitar este recurso natural..., o que reforçou o valor da Pateira... 
No ano do nascimento do reino de Portugal, em 1143 a área de Fermentelos e a Pateira ( canal fluvial ) continuavam a ser um protectorado de Bragança, mas decorridos algus anos, faz cedência aos Távoras que recebem Foros de toda a região... 
A Duquesa de Távora casa com o Duque de Aveiro, assumindo então um protectorado que tinha por limites  o Rio Vouga e Cértima, herança deixada por G. Mendes, que atraia pelas suas caçadas aos Patos, Lontras e Codernizes, a nobreza portuguesa. 
Os Tavóras, conselheiros de El-Rei D. João I, convidavam-no a participar nas caçadas , mas este seria constantemente avisado pelo seu conselheiro Marquês de Pombal que corria perigo..., acabando por condenar à morte os Távoras  até à terceira geração. 
O Marquês pretendia o protectorado dos Távoras, mas como a geração desapareceria...a Casa de Bragança recuperava o protectorado.

 

As primeiras referências documentais.

 

Entretanto, por esta altura  surgem as primeiras referências documentais de Fermentelos, com o inventário das propriedades que D. Gonçalo Viegas e D.

Flâmula possuiam em 1050, que vem publicado no Milenário de Aveiro- -1959*, onde surge a primeira e mais antiga referência a Faramontanellos...

..."Flamula in riba uauga. 
LaIi quomodo diuide per illa insula de pingnero et de saualanes per ut ilIa conbona solent facere sancta maria de lamas mediate integra per suos terminos per ut sparte per illa petra de contensa et de alia parte per illa lagona de sub porto de belli et quomodo diuide de alia parte uauga per cima de iIla lagona de sub porto de belli in suo directo diuide cum belli et de faraganes mediatate. Et mediatate de castrello et tertia de arraual. Et de totum ualle longum quarta integra. Et faramontanos tertia integra. Et de uilla serem tertia integra. et de uilla lafafi mediata integra. Et de monasterio de cedarim mediata integra. Et de sua uilla de paratella mediata integra. Padazanes ad integro per suos terminos quomodo diuide cum christouanes et cum couellas per illo diuidiui cum maiorinos de rex domno fredenando. et de alia parte per estrata maiore. et de alia parte quomodo diuide cum lamas per illa coua de illo sauuqueiro de ripa de uauga. et de uilla sagatanes quarta integra. et uilar de bolfelar riba agata totum ad integro. Et in riba de certuma uiIa paratelIa ad integro. et faramontanelIos ad integro. et in barrios aurentana. Santa maria de lamas que fuit de auolengo. Zedarim que fuit de auolengo. Faramantanellos que fui de auolengo. paratella de auolengo. aurentana de auolengo. sala cum suas salinas de auolengo. et uilla de recar-dares mediatate cum media de sua eclesia quomodo diuide cum barriole et cum eiras de alia parte cum spinelle et de alia parte agada casal de lausata diuide cum abciquinis et de alia cum ederoni. et in illa marina costa sala tertia de alaueiro. et illas uillas que sursum sunt nominatas de auolengo et de ganata quomodo diuisi illas dom gunzaluo quando sedia in nonte maiore per manus de rex domno adefonso et per sua persolta et per ueritate et per manus de ille comes menendus luci ciui illa terra inperabat.”

Relativamente, a esta primeira referência documental, põe-se as questões  
« Como era constituido Faramontanellos?; qual sua dimensão?; era uma área habitada?», que têm várias explicações e opiniões.  
Segundo Dr. Augusto Soares de Sousa Baptista, que publica no "Arquivo Distrital de Aveiro de 1950" *, o estudo "Considerações sobre a cidade luso-romana de Vacca, o julgado e Burgo do Vouga" em que analisa o texto do inventáriodos dos bens de D. Gonçalo Viegas e D. Flâmula e explica o significado de "vila" e "casais" nos séc. IX, X, XI e XII. 
 Como "uma área, em regra, de pequenas dimensões, de terras cultivadas...ou algum platio em encosta soalheira, ou na várzea de um rio, a constituia, já era um vila", é no fundo o significado que Plínio * dá à palavra..., pelo que mostra o Dicionário Latino de Santos Saraiva. 
O Dr. Sousa Baptista, num outro estudo sobre temas desta zona, fala em "vilas ermas" e na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol.35, relativamente à palavra vila podem ler-se opiniões autorizadas de autores como A. Herculano, Gama Barros e Alberto Sampaio..., em que o" termo villa designava a granja, o casal, o prédio rústico, a herdade...", assim pela Enciclopédia, tanto vilas como casais podiam ter ou não casas e o proprietário ou o dominus podia viver em outros lugares, cidades, vicos ou vilas urbanas e residenciais.

Em 1077, passados 27 anos após  o primeiro inventário dos bens de D. Gonçalo e D. Flâmula , novo inventário foi feito dos bens dos mesmos e de D. Paio Gonçalves. É o documento nº549 dos Diplomata et Charte (P.M.H) e é reproduzido integralmente no Milenário de Aveiro, onde aparece de novo Faramontanellos, situado nas margens do Cértima*.

Nas inquirições de D. Afonso II*, o Gordo, em 1220, verificou-se que o nome primitivo de Faramontanellos tinha evoluido para Foramontaelos, etimologia que assenta nas palavras foro + monte, montaria, monteiro, em referência á caça a cavalo... 
Nesta inquirição vê-se a qualidade e a quantidade do tributo pago como foro ou renda  e verifica-se que não há ainda referência directa à presença de pessoas ou homens nestas terras, enquanto em outras próximas de Fermentelos, já tinham gente, eram habitadas, cultivadas...

..."De foramantaelas villa est tata regalenga et dant inde quartam de pane et una et de uma. vam. et moalia de estiua et de terra quam ruperint dat Viam et pra eiradiga . iij. teigas de pane tertiatum et pra espadaa almude de tritico et J. gallinam quiibet per se pra fagazis Vl. alqueires de tritica .ll. capones .X. auos et uidam maiordama. de uaca tenreira .J. caseum et mantecam et de vina in eiradiga .J. almude. et ponunt pedem de uuis tres vices. ln Ourol sunt tria casalia (de) regalengo et tenet dominicus Egee in pres-tamo et faciunt tale forum sicut de faramontaelas. ln Cacauelos sunt tria casalia de regalengo et tenet Stephanus martiniz digal. Et in orta .V. casalia et tenet stephanus martiniz. lnterrogati de hereditatibus ordinum dixerunt quod lorbano habet morta J. casale Sanctus Tirsus .J. casale Ecclesiole .J. sancta crux iiij. casalia."

Segundo esta fonte, "Foramontaelos era uma vila e toda reguenga"..., era domínio real e por isso, isenta de certos encargos e tributos como os da cavalaria, mas pagava produtos da terra como o trigo, o vinho, uma galinha, dois frangos, dez ovos, queijo, manteiga... 
Pelo documento não tinha casais, ao contrário do Carregal, Requeixo, Eirol, Óis.., não podendo referir qualquer nome, pessoa... 
Neste sentido, Casal / Casais ou Vilas nesta época, eram unidades agrárias que tinham de pagar o que estava estipulado, procurando por vezes escapar a essa obrigação, daí vieram as numerosas inquirições para saber a quem pertenciam as terras, as Vilas e os Casais, quem tinha o direito de receber, a quantidade, qualidade e variedade do que deviam pagar.  
O Dr. Sousa Baptista afirma que as terras cultivadas ou campos arroteados constituiam uma Vila e que a junção de várias Vilas eram os Casais, o que leva a concluir que  Casal / Casais nem sempre garante a existência de pessoas ou habitantes nesses locais.

 

Outra referência importante, foi a carta de foral  que D. Manuel I *deu à vila e extinto concelho de Óis da Ribeira, em 2/6/1516, onde surge o nome de Formontelos.

...foraaes dooes eixo e de paaos dados per inquirições particulares.

..."Dom Manuel per graça de Deos Rey de Purtugal e dos Algarves daaquem e daalem mar em africa Senhor de guinee da conquista navegaçam commercio dethioopia araabia Persia e da lndía a quantos esta nossa carta de foraal dado ao concelho e terra dooes com os casaaes de espinhell e formontellos pera sempre virem fazemos saber per bem, das sentenças e determinações geraaes e especiaaes que foram dadas e feitas per noos e com as do noosso conselho e letraados aacerca dos foraaes de noossos Reynos e dos direitos Reaaes a tributos que se per elles deviam darrecadar e pagar e assim pelas inquirições que principalmente mandamos tirar e fazer em todolos logaares de noosos Reynos e Senhorios justificados primeiro com as pessoas que os ditos direitos Reaaes tinham, achamos per inquirições particulares que as rendas e direitos Reaaes se devem hy darrecadar e pagar na maneira e foorma seguinte: 

 E per tanto mandamos que todas as causas contheudas neste foraal que noos pomos per lei se cumpra pera sem pre do theor do qual mandamos fazer trez: um delles para a camara do dito concelho; e outro pera o Senhorio dos ditos direitos; e outro pera nossa torre do tombo pera em todo o tempo se poder tirar qualquer duvida que sobre isso poosa sobrevir. Daada em noossa mui noobre e sempre leaal cidade de Lisboa aaos dous dias do mez de junho de mil e quinhen-tos e dezasseis annos...”

 

O constitucionalismo e a reforma profunda que a sociedade portuguesa sofreu no século passado, levaram à rejeição do antigo sistema legislativo / forais, que foram declarados extintos pelo decreto de 13 de Agosto de 1832 e pela carta de Lei de 22 de Junho de 1846, fonte do direito público dos concelhos. 
Esta inestimável colecção de legislação regional, de elevada importância para a História local, pela acção do tempo e das circunstâncias, a maioria vai-se dispersando, não se sabendo qual o paradeiro actual, existindo apenas cópias ( Leitura Nova - Arquivo Nacional da Tôrre do Tombo* )  e no caso do foral de Óis, encontra-se nas mãos de particulares... 
Estes forais respeitam uma ordem, sobressaíndo aspectos da vida admnistrativa municipal, que segundo os estudos feitos por Alberto Carlos Menezes, João Pedro Ribeiro, Herculano, Francisco N. Franklin, encontram-se pela seguinte forma: «Estes Foraes novos forão Escripturas, ou Regimentos censuaes, em que se estabelecêrão os Direitos Reaes para cada Cidade, e Villa das Comarcas do Reino, declarando as jugadas, censos, foros, pensões agrarias, e varios direitos fiscaes e dominicaes, direitos exclusivos, servidões pessoes restos de costumes feudaes; os bannaes da sujeição de Fornos, Moinhos, Lagares, Relegos....».*

 

Neste foral manuelino, toda a área de Formontelos era designada por  Mata Real de Perrães, Paradela, e Louredo*, encontrando-se fora da coutada dos reis de Portugal e tinha por vizinhos as terras do Bispo de Coimbra e bens do Convento de Lorvão. 
Nos fins do séc.XV, el-rei D. Manuel I informado pelo seu almoxarife de Aveiro de que  a Mata de Perrães...« que sempre fôra coutada para nela se colherem porcos e veados era apaúlada e que arredor dela não receberiam opressão e perda que recebem, assim dos monstros como das alimárias que nela se criam...», resolveu el-rei depois mandar proceder a averiguações, aforar esse couto, com a condição porém de que o aforamento andasse sempre junto em uma só pessoa, que ficaria sendo Cabeça de prazo.  
Então, a Mata de Perrães foi aforrada  ao próprio almoxarife de Aveiro, Anrique de Almeida, pelo foro anual de 250 reis e seis galinhas, pago em dia de S. João, sendo a carta deste aforamento passada na vila de Muge a 15 de Novembro de 1496. 
Em 1626, Lourenço de Almeida Alcoforado, filho de Domingos Gonçalves Prego e de Helena Almeida Raposo, neta do almoxarife A. Almeida, fez na sua qualidade de cabeça de prazo, venda dos seus direitos a Diogo Teles Castel-Branco (filho de Lopo Álvares de Avilez Castel-Branco e bisavô de Diogo Teles Castel-Branco Barreto e Nápoles) por escritura feita na notável Vila de Aveiro a 17 de Abril de 1626, pelo escrivão Belchior Correia de Vasconcelos. 
A escritura de posse é feita, por um tabelião nas Azenhas de Louredo e Quintã aos 22 de Abril de 1626. 
Apesar, de contrariados pelos moradores das vizinhanças da Mata , vários trabalhos de arroteamento e drenagem tinham-se já feito no ano de 1741, pois nesse ano por provisão de el-rei, é encarregado do tombo da «Costa do Loredo» o Dr. João de Magalhães Castel-Branco, «em que Sua magestade manda criar de novo o lugar de Juiz de Fora e dos Orfãos, crime, civel e sisas, em as vilas de Recardães, Segadães, Casal de Álvaro e Brunhido», tendo por escrivão do tombo Luís de Melo e dando princípio aos trabalhos no 1º dia de Março, nas casas do Celeiro da Quinta do Louredo pertencentes a Diogo Teles Castel-Branco Barreto e Nápoles. Este tombo não chegou a concluir-se, mas relaciona já 19 subenfiteutas com terras cultivadas, principalmenta de vinha, das quais terras, esses subenfieutas pagavam a Diogo Teles o foro, laudémio e ração...

 

Actualmente, não é fácil saber-se qual a área exacta que ocupava a antiga  Mata Real de Perrães, visto que o aforamento feito por D. Manuel não lhe demarca as dimensões, dizendo apenas que a Mata «era de comprido boa meia légua e de largo um tiro de besta e que se momeia por três nomes: contra o Mosteiro de Larvão se chama Mata Real de Perrães; contra o lugar de Paradela se chama; e contra Espinhel se chama de Loredo»... 
 

Em 1672, procedeu a uma vistória o desembargador António F. Fonseca, para delimitar a largura e comprimento da Mata... «declaro que algumas medições  foram feitas de barco pelos louvados, por estar a Mata apaúlada» 
Conclui-se que o terreno medido já não era todo o que D. Manuel havia aforado a Anrique de Almeida, visto que nestas medições não entrava o terreno das vinhas da Costa do Louredo - o terreno já arroteado; e que sendo necessário andar de barco para se fazer a medição, pode-se considerar que o Paúl (zona alagadiça) da Mata Real de Perrães, seria o início da actual Pateira *. 
A Mata de Perrães era dos descendentes de Diogo de Teles desde 1626, que por várias demandas e contrariedades, provocadas pelos de Óis, a possuiram até depois do meado do século passado. À casa do Atalho* foi sempre feita justiça, quer corrigindo as usurpações das propriedades, quer julgando a seu favor todas as demandas que teve de sustentar com alguns particulares, com o Convento de Larvão e até com a Casa de Bragança, na qual tinha sido encorporado o Senhorio de Óis, de que era donatário o conde de Odemira, D. Sancho de Noronha... 

 

No princípio do século passado, a casa do Atalho pertenceu a uma Senhora, à falta de varão.., casada, o marido envolvido nas lutas politicas e militares de 1822 a 1834, tomando parte por D. Miguel, levou a que a admnistração da casa fosse descorada e que os enfieutas mais rebeldes deixassem de pagar, pois após três dezenas de anos nada recebia pelas suas terras de Perrâes... 

Evolução do nome..
Neste contexto,  e com já verificamos, houve uma evolução da designação de Fermentelos ao longo dos séculos, visto que por altura das primeiras referências, havia montados que pagavam aos donatários um certo foro pela  caça que colhiam, designando-se os terrenos de Foramontanos. 
Quando os terrenos eram pequenos ou a caça existente era pouca, chamavam-se terrenos Foramontanelos.  
Estes adjectivos passaram a nomes próprios, Foramontões e Foramontanelos, surgindo no documento de D. Gonçalo como local de Faramontanelos eFormontelos na carta de foral de D. Manuel I...
Lenda...

Apesar, da ficção não pertencer ao campo da História, é sempre curioso e importante conhecer o lado popular da História, com a Lenda dos três irmãos que fundaram Fermentelos.  
Estes, depois de se terem perdido no nevoeiro quando navegavam no Rio Cértima, foram parar á Pateira*, supresos pela beleza da região decidiram ficar, pescando grandes quantidades de peixe que vendiam nos povoados vizinhos... 
André, Domingos e Tomé ao procurarem dar um nome à terra discutiram, com o mais novo "Fermenta" a entrar em duelo conm os irmãos,  e do Fermenta e duelo, surgiu o nome de Fermentelos. 

 

 

Fonte: https://clientes.netvisao.pt/dalvarom/hist.htm